quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Baile do Menino Deus na Vila Rubi - SP


Baile do Menino Deus Na Vila Rubi (SP) - Uma verdade Trivolim

Quando recebi o convite de Wilson Sacramento para escrever sobre a apresentação do espetáculo Baile do Menino Deus, realizada durante as festividades de Natal 2010 no CEU Vila Rubi aqui em São Paulo, aceitei de pronto. Depois, fui vendo a empreitada em que havia me enfiado o meu amigo: como escrever sobre graça e beleza juvenil a partir da arte? Como escrever sobre o sucesso da felicidade e do encantamento em grupo? Como entender tudo isso no contexto das atividades culturais do CEU Vila Rubi?
Entendi que minhas palavras seriam muito pequenas perto da giganteza do espetáculo e do que ele se transformou diante de meus olhos. Mas, empreitada aceita, vou me dedicar ao máximo para responder, de alguma forma, a estas indagações agradecendo, então, pelo convite mágico do Wilson.
O Baile do Menino Deus é um musical tipicamente brasileiro, tem quase 30 anos de história e, provavelmente, já fora encenado em várias regiões do Brasil por trupes profissionais e amadoras ou escolares. Seus autores, Ronaldo Correia de Brito e Antonio Madureira, grandes nomes da literatura e música popular do nordeste brasileiro, têm o reconhecimento e respeito de entidades como Ariano Suassuna, Antonio Nóbrega e até do grupo Madredeus, de origem portuguesa.
O musical, segundo alguns especialistas, foi escrito para o público infantil, mas sua grandiosidade atinge os corações de espectadores de todas as idades, crenças e origens, pois trata do nascimento de Cristo como um festejo popular, visto de dentro do Brasil e para brasileiros, resgatando uma memória autêntica do Natal, longe de estrangeirismos. Nesse baile, todos dançamos, todos presenteamos e somos todos presenteados. Saudades de roça e sertão em pleno asfalto, no caso.
Na versão encenada pelo grupo de Dança Vocacional, na Vila Rubi, não se perdeu de vista o caráter mambembe do Mateus e das crianças que o acompanham em busca do menino especial, escondido a portas fechadas que, quando abertas, parecem apresentar realmente cada um de nós no colo da virgem Maria e do Pai José. Todos ficamos especialmente brasileiros e a presença do cantador Eliezer Teixeira era a nossa maior garantia disso. Sobre este artista, de quem tive a honra de receber pessoalmente o próprio livro e cd musical, espero poder escrever em outras ocasiões, que não vai caber aqui.
E é nesse enleio de originalidade genuinamente brasileira que penso começar a compreender o que significou a encenação do Baile do Menino Deus entre os festejos do povo da Vila Rubi, cuja população é basicamente de nordestinos erradicados em São Paulo.
Arte e beleza juvenis significam, na linguagem de encantamento utilizada pelos vocacionados, que está em questão não o tempo de vida de cada um, mas a vida de cada um no tempo e no espaço das tradições brasileiras. Vivemos em tempos em que nos falamos cada vez menos, em que nossas características mais felizes se apagam em meio ao caos e a poeira dos ventos imaginados pelos dígitos inexpressivos da era informatizada e gelada. Na Vila Rubi, não.
Nesse caso, o sucesso da felicidade em grupo que mencionei inicialmente é de fertilidades regionais, porque são capazes de transmitir verdade no que estão fazendo, uma VERDADE TRIVOLIM, acho que é isso.
Daí ficar mais fácil entender a pertinência do musical e da manutenção do grupo de Dança Vocacional do CEU Vila Rubi em parceria com o talento do Deca Madureira, que eu não conhecia e fiquei encantada. Também não conhecia o Claudio Ferreira, sábio no compartilhar de sua originalidade nordistana. E não posso deixar de mencionar a emoção por rever a Vivi (Viviane Ramos) colega de muitas batalhas pedagógicas no oeste paulista, na coordenação e viabilidade de tudo isso. No bairro do Bixiga, onde moro, vejo todos os dias a cultura nordestina penetrando no meio do samba italiano de Adoniran Barbosa, mas não há a mesma liberdade de expressão que na Vila Rubi. Já pensei em desenvolver trabalhos sobre isso, principalmente, a partir da linguagem folclórica que se forma nessa mistura entre negros, nordestinos e italianos. Mas, tenho ainda muito o que aprender sobre isso, nem saberia por onde começar de tanta coisa que tem! Por enquanto, desejo sucesso para a trupe e parabenizo a todos pelo belíssimo espetáculo, cheio de cores, magia e talento!
Outras pessoas que tenham imagens sobre o espetáculo podem postá-las, para que todos possam prestigiar!
Feliz Natal sô! Feliz Natal meu! Feliz Natal oxênte!
Janaína Behling – educadora, linguista e gerente de projetos